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sábado, julho 15, 2006

Sócrates ganhou o debate do Estado da Nação

José Sócrates chegou ao debate do Estado da Nação com a missão de mostrar que o País está melhor do que há 16 meses. Para tal, com a lição bem estudada, recorreu às pequenas décimas que demonstram uma economia em crescimento, apesar de fraco, para provar tal facto. Tentou afastar-se de um cenário de estagnação, mostrando com grande ênfase as reformas que empreendeu, elegendo as novas tecnologias como a prioridade da actuação do seu governo. A oposição, por seu turno, acusou Sócrates de ser propagandista, de muitos anúncios e pouca obra. É o último episodio antes das férias que interrompem este ciclo político.

Num hemiciclo com o ar condicionado avariado e uma consequente temperatura muito elevada, onde a ausência de Pedro Santana Lopes "por motivos pessoais" adiou um encontro entre o antigo e o actual primeiro-ministro, o debate do Estado da Nação teve como novidade o reforço das verbas destinadas à qualificação dos recursos humanos: "as áreas da educação, da formação e da ciência terão mais 1300 milhões de Euros do que tiveram no Quadro Comunitário anterior, passando de 4700 para 6 mil milhões de Euros", referiu José Sócrates. O primeiro-ministro qualificou o défice de qualificação dos portugueses como "aquele que mais condiciona o nosso desenvolvimento".

As intervenções de Sócrates tiveram como objectivo mostrar que o País está numa melhor situação do que há 16 mese. "O País tem agora um rumo", anunciou , assumindo-se como o líder de um Governo reformista, nomeando o Prace, o Simplex ou a Reforma da Segurança Social como exemplos de grandes medidas do seu executivo.

Sócrates recorreu aos "indicadores económicos positivos" para provar que o país está "no bom caminho". A redução do défice orçamental para 6%, a inversão da tendência de crescimento negativo do PIB, o crescimento das exportações para 7.2% em termos homólogos, o aumento do investimento privado em Portugal e uma diminuição no primeiro trimestre de 2006 da taxa de desemprego são os números invocados para afastar o cenário de estagnação em que estava o País a quando da tomada de posse do Governo.

Marques Mendes, em resposta, qualificou o discurso de Sócrates como "um auto-elogio da Nação", avançando que só faltou o Primeiro-Ministro dizer que era "o responsável pela selecção ter chegado às meias-finais do campeonato do mundo". O líder da oposição falou em "propaganda", em relação ao anunciado, sublinhando que as grandes politicas do governo ou tinham falhado ou ficaram no papel.
Para o deputado social-democrata o "estado da nação suscita as maiores preocupações". Pois, contrariando os números apresentados pelo executivo, Mendes referiu que "a confiança não cresce, o investimento não aumenta, a economia não arranca, o desemprego sobe, os impostos agravam-se e a despesa pública aumenta". Neste cenário negro traçado pelo líder da oposição, este propõe, como exemplo de uma nova estratégia política a seguir, a privatização das empresas públicas de transportes, que, segundo o presidente do PSD, constituem "um sorvedouro de dinheiros públicos", originando um resultado negativo acumulado de 2001 a 2004 de 2.700 milhões de Euros.


Em relação ao CDS-PP, as criticas ao executivo ficaram a cargo de Nuno Melo, que disse existir um "Sócrates no país das maravilhas". O deputado centrista realçou que apesar do aumento dos impostos, do aumento da receita do estado, a despesa pública e o défice continuam a crescer. Nuno Melo concluiu que "o que está mal é a governação".

Mais à esquerda, as críticas assumiram diferentes características. Sendo os lucros dos bancos o tema mais emergente na oposição elaborada pelos partidos situados neste campo político. Jerónimo de Sousa questionou directamente o ministro das Finanças, perguntando-lhe se "acredita mesmo naquilo que disse, ao referir que os sacrifícios eram para todos". Pois, para o PCP, os lucros das grandes empresas mantêm-se intocáveis, sendo os trabalhadores e os reformados os grandes prejudicados pela reformas empreendidas pelo Governo. Acusando, por fim, José Sócrates de "não ser de esquerda".

No tocante ao BE, Francisco Louça fundamentou a sua oposição em "números oficiais". Anunciando que a criação de 30 mil novos postos de emprego era insuficientes, pois a população activa sofreu um aumente de 70 mil pessoas. Considerando o quadro de supranumerários como "o maior despedimento colectivo que há memória". Pelos Verdes, Heloisa Apolónia qualificou o Governo de "anti-ambientalista", acrescentando que o executivo pautava a sua actuação por uma lógica de "ser preciso poluir para crescer".

Duarte Albuquerque Carreira, in jornal Semanário
http://www.semanario.pt/noticia.php?ID=2919